Em 5 de novembro de 2024, dezenas de milhões de norte-americanos vão às urnas escolher quem será o novo presidente do país. As eleições do próximo ano prometem ser movimentadas, porque, pelo que tudo indica, a disputa será uma revanche entre o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o ex-mandatário, Donald Trump. Pela primeira vez em muitos anos, dois presidentes vão se enfrentar na busca pelo poder. Nas pesquisas mais recentes, o republicano aparece com a vantagem em relação ao democrata na 60ª eleição presidencial. Contudo, um fator que precisa ser levando em consideração e que também se fará presente, é o fato de que Trump, que se tornou o primeiro ex-presidente a ser indiciado, enfrenta quatro acusações, e elas vão ser julgadas no próximo ano, ao mesmo tempo em que ele realizará sua campanha eleitoral. O republicano é acusado de: tentativa de alteração nos resultados nas eleições de 2020 na Geórgia, conspiração contra os Estados Unidos para obstruir um procedimento oficial – acusações mais graves e que podem ter uma real interferência na vida política de Trump – , falsificação de documentos contábeis e retenção de documentos sigilosos e fralde fiscal. A situação de Biden, no quesito com a justiça, é um pouco melhor, contudo, em dezembro, o Congresso aprovou, apesar de não ter chances de dar em algo, a abertura de um processo de destituição de Biden, motivado pelos negócios controversos de seu filho, Hunter, no exterior.
Recentemente, o tribunal do Colorado decidiu que Trump não pode concorrer à presidência e disse que ele está inelegível devido a suas ações relacionadas ao ataque contra o Capitólio em 2021. Se acatada pela Suprema Corte dos EUA, entretanto, teria potencial para mudar os rumos da eleição de 2024. Esse novo desfecho leva ao questionamento sobre como ficar o futuro de Trump e como deve ser as eleições norte-americanas. Vitelio Brustolin, professor de relações internacionais da UFF e pesquisador de Harvard, fala que apesar do Partido Republicano e dos Democratas terem vagas garantidas nas cédulas eleitorais em todos os estados, algumas regiões poderiam tentar manter o ex-presidente fora das cédulas por conta das legislações locais, contudo, isso pode ser considerado inconstitucional, pelo fato de que a Constituição não proíbe que alguém que responda processo ou esteja condenado possa concorrer. Contudo, caso isso aconteça, o especialista enfatiza que o problema teria que ser resolvido na Suprema Corte, como quase tudo.
Brustolin lembra que já houve um candidato nos Estados Unidos que se candidatou quando estava preso, o que faz com que Trump também possa concorrer, porque, como explica o professor, quando a constituição norte-americana foi escrita em 1787 pelo Alexandre Hamilton e pelo Benjamin Franklin, eles não pensaram em uma situação como essa, então as limitações para a candidatura de alguém respondendo processo elas não abrangem a questão criminal. Contudo, apesar de Trump poder concorrer à presidência, pode ficar impossibilitado de votar caso seja condenado e preso, porque isso passa por leis estadunidenses. Na Flórida, por exemplo, onde o republicano está registrado, condenados perdem o direito de votar e só recuperam o após cumprirem toda a pena. Há possibilidade ele mudar seu registro para Nova York, onde estaria apto a cumprir com seu dever de cidadão, porque no estado condenados podem votar enquanto estiver em liberdade.
O cientista político Horácio Lessa Ramalho, fala que essas próximas eleições vão ser decididas pela rejeição, porque o eleitor não quer nenhum dos dois candidatos, então, aquele que tiver menos rejeição, vai ser o eleito. “Se a rejeição do Biden continuar subindo e a economia e as guerras continuarem piorando sua avaliação, dificilmente ele será reeleito”, fala o especialista. A ajuda fornecida por Biden a Ucrânia e a Israel tem irritado parte dos norte-americanos, princialmente após a contraofensiva fracassada da Ucrânia. Assim como as pesquisas têm apontado, Ramalho também vê Trump mais forte do que Biden para vencer as eleições, porém destaca que os problemas com a justiça que ele enfrenta pode afetar sua campanha política. “As acuações em si vão ter um peso de relevância na questão da rejeição e nas eleições. Mas, o Trump tem eleitorado bem consolidados, e o que vai definir se ele vai ganhar ou não, sãos os estados-chave”, fala o especialista, que também destaca que mesmo se o republicano for condenado, não há nenhum impedimento que o impeça de assumir o cargo.
Nos Estados Unidos exitem poucos requisitos de elegibilidade para os presidentes, sendo eles: ter pelo menos 35 anos, ser cidadãos dos Estados Unidos e ter vivido pelo menos 14 anos no país. Não há limitação baseada em caráter. Alguns estados proíbem pessoas condenadas de concorrer a cargos estaduais e locais, só que se tratam de leis dos estados e não se aplicam a cargos federais. Apesar de toda essa situação envolvendo Trump, que o professor Brustolin considera como um cenário de filme, ele diz que a situação nos Estados Unidos hoje não é favorável para Biden e que ele perderia tanto de Trump, como da ex-embaixadora dos Estados Unidos na ONU (Organização das Nações Unidas), Nikki Haley. O único que ele derrotaria seria Ron DeSantis, governador da Flórida. ” Existe uma percepção negativa, no geral, em torno do Biden, isso é refletido nas pesquisas. A aprovação do Biden hoje é só de 37%. Apenas 26% dos eleitores registrados dizem que os Estados Unidos estão na direção correta”, fala o professor citando pesquisas realizadas no país.
As eleições norte-americanas, apontadas por muito especialistas como a mair importante de uma marota de votação que vão acontecer no próximo ano, terá uma relação direta com todas as outras que vão acontecer, principalmente no cenário para Europa, porque uma mudança de posicionamento de Trump em relação à Ucrânia, que nesse momento é a porta de entrada da Rússia para Europa, é benéfico para Vladimir Putin, e péssimo para os europeus, e da Ásia, na relação China x Taiwan. “2024 será potencialmente um dos anos eleitorais mais significativos da história recente e as eleições podem mexer com a ordem global”, fala Brustolin que para ilustrar o que ele está falando, faz uma comparação com as eleições de 2016, em que Trump foi eleito e o Reino Unido deixou o Brexit. “A gente está passando por uma grande transformação da ordem global”, fala o professor. Em relação ao Brasil, ele diz que mesmo Biden e Lula sendo mais aliados, não conseguiram chegar a grande feitos neste ano, e em uma possível vitória de Trump, é ideal que os países “priorizem os seus interesses nacionais e que a questão pessoal dos presidentes não atrapalhe os interesses dos dois países, que aliás, é o que se espera das relações internacionais, que elas sejam práticas”, fala. “Países não têm amigos, países têm interesses”, acrescenta. Horácio Ramalho fala que uma reeleição de Biden, as relações com o Brasil vão continuar como estão hoje, em que já se percebe um distanciamento entre os líderes brasileiro e norte-americano. “Independente de qual for o resultado da eleição, o Brasil, em algum momento, vai ter que rever a sua postura.”
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