A Ashtar Theatre é uma companhia da Cisjordânia que o diretor artístico da CTA conheceu no Festival de Teatro do Cairo, em setembro último, “ainda antes desta nova fase sangrenta do conflito israelo-palestiniano”, e que convidou para fazer parte da porgramação deste ano, adiantou Rodrigo Francisco à agência Lusa.
Com conceção e direção da dramaturga, atriz, encenadora e professora britânica Mojisola Adebayo, ‘Oranges and stones’ será representada de 17 a 19 de maio, na sala Experimental do Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB), num espetáculo que o diretor artístico da CTA “espera que se possa realizar”, já que tem mantido contactos com a companhia palestiniana. E, apesar da guerra, esta “mantém a vontade” de vir a Almada.
‘Laranjas e pedras’ leva o público à época “da primeira onda de emigração judaica para a Palestina”, na sequência da Declaração de Balfour de 1917, na qual se reconhece “o estabelecimento de um lar nacional para o povo judeu na Palestina” sem, no entanto, “prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não-judias que já lá estão”, como a sinopse da peça recorda.
Neste pequeno espectáculo “sem palavras” conta-se a história de “um homem pobre, do centro da Europa, que se refugia na Palestina na sequência da I Guerra Mundial, instalando-se na casa de uma habitante local. Pouco a pouco, esse recém-chegado acaba por apoderar-se da casa, expulsando a sua habitante original, que vivia feliz com o proveito das laranjas colhidas no seu pomar”, acrescenta a apresentação da obra.
Sobre o espetáculo, a sua criadora, Mojisola Adebayo, escreve: “Procurei criar uma peça na qual o público que vive fora da realidade da Palestina tivesse uma imagem do que é a ocupação, sem necessidade de palavras. Este espectáculo não procura contar toda a verdade, não é documental, mas conta uma verdade possível”.
Natural da capital britânica, onde nasceu em 1971, com ascendência dinamarquesa e nigeriana, Mojisola Adebayo é professora do Departamento de Teatro e Performance da Universidade de Londres. Soma uma obra com mais de duas dezenas de títulos, entre poesia, drama e investigação, abordando temas como colonialismo, racismo, xenofobia, violência de género. Na África do Sul estreou “I Stand Corrected”, uma das suas mais conhecidas, representadas e estudadas peças.
A companhia Ashtar Theatre, fundada em 1991, tem sede em Ramallah, na Cisjordânia. O seu “objetivo principal” é “promover e divulgar, através do teatro, uma sociedade livre e aberta ao Mundo”. “Parte dessa missão tem sido cumprida graças à passagem desta companhia por vários festivais internacionais, assumindo-se como uma verdadeira embaixadora da cultura palestiniana”, lê-se no texto de apresentação da nova programação da CTA.
Entre os destaques da programação 2024, Rodrigo Francisco frisou ainda o regresso das atividades para a infância, interrompidas desde o início da pandemia de covid-19, e que se traduzem no regresso, de dois ateliês para crianças.
‘Vamos explorar o teatro azul’, título de uma “visita-jogo”, coordenada por Paula Barroso, que leva a “filosofia para o teatro”. É a grande novidade dos ateliês, como afirmou.
Outro ateliê versa sobre artes plásticas. É coordenado por Carolina Celas e intitula-se “Um teatro que cabe na mala”.
Divididos por dois escalões etários (dos 5 aos 8 anos e dos 9 aos 12 anos), o primeiro decorre a 27 de janeiro e 28 de setembro, e, o segundo, a 3 de fevereiro e 26 de outubro, respetivamente.
No total, a programação para 2024 da CTA contempla 15 espectáculos de teatro, 14 para a infância, seis de dança e dezassete de música.
Entre as peças de acolhimento, contam-se ‘Camus- Casarè, Une géographie amoureuse’, uma peça da companhia Châteaux en Espagne, da autoria de Jean-Marie Galey e Teresa Ovídio, encenada por Élisabeth Chailloux, sobre a relação do escritor e filósofo Albert Camus e a atriz Maria Casarès (24 a 26 de maio, sala Experimental); ‘Mãe coragem’, de Brecht, pela Ar de Filmes/Teatro do Bairro, também integrado na 41.ª edição do Festival de Almada (17 e 18 de julho), e ‘S.O.S — Aquela noite’, do coletivo Sul.
Este coletivo, composto por Ricardo Aibéo, Dinis Gomes, Duarte Guimarães, Rita Durão, Rita Loureiro e Sofia Marques, também conhecido como “os cornucopianos”, regressa nos dias 20 e 21 de dezembro ao TMJB — onde em 2022 levou ‘O rinoceronte’ – para apresentar um espetáculo com montagem de textos “muito pouco conhecidos e alguns inéditos” de Almada Negreiros.
‘Morto o cão, acabou-se a fúria — A vida de Luiz Pacheco’, peça sobre o “escritor maldito”, é uma ideia original de Pablo Fidalgo Lareo, criada em conjunto por Carolina Dominguez e o ator Cláudio da Silva, que interpreta. Estará em cena nos dias 11 e 12 de maio, no TMJB.
A nível de propostas de música, destaque para os concertos: Jorge Palma (20 de janeiro), Orquestra Gulbenkian (25 de janeiro), Camerata Atlântica: Uma década de música (28 janeiro), Orquestra Sinfónica Portuguesa e Coro do Teatro Nacional de S. Carlos (04 fevereiro), Cassete Pirata (10 fevereiro), Júbilo (20 de abril), Carolina Deslandes (5 de outubro) e Luísa Sobral (07 de dezembro).
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