A colocação destas placas pretende assinalar o “período mais relevante em termos de contributo da presença africana em Lisboa e em Portugal”, entre os séculos XV e o XX, como disse à Lusa um dirigente da Associação Cultural e Juvenil Batoto Yetu Portugal, promotora da iniciativa.
“Abordamos alguns dos primeiros jornalistas de presença africana, médicos, líderes associativos de comunidades religiosas, como é o caso do Pai Paulino [que terá uma estátua no Largo de São Domingos], locais de encontro de populações africanas ou de portugueses de origem africana, a par da parte artística associada às danças do fado”, afirmou Djuzé Neves.
Apoiado pela Câmara Municipal de Lisboa e inserido no Programa BIP/ZIP (Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária de Lisboa), o projeto da Batoto Yetu Portugal contou com o acompanhamento dos departamentos culturais da autarquia da capital portuguesa e a consultadoria da investigadora Isabel Castro Henriques.
Ao todo foram selecionadas 20 placas toponímicas, que serão colocadas em vários espaços de Lisboa, esse “museu a céu aberto”, onde facilmente se encontram testemunhos da presença africana, como referiu Djuzé Neves.
“É mais um passo, mais uma atividade, mais um projeto, dentro dos vários que fazemos, mais um contributo para a história de Portugal”, acrescentou.
A partir destas placas e do que abordam, os cidadãos são convidados a pensar e a refletir sobre esta presença.
O pensamento é, aliás, uma referência presente na estátua do Pai Paulino, um brasileiro nascido no século XVIII e conhecido por defender os direitos dos negros, que será inaugurada no mesmo dia, no Largo de São Domingos, “uma zona historicamente associada à presença de populações portuguesas de origem africana ou de populações africanas ali chegadas, livres ou não livres”, segundo Djuzé Neves.
A estátua, da autoria do escultor moçambicano Frank Ntaluma, “representa o líder de uma congregação religiosa de proteção das pessoas africanas que existia em Lisboa, mas acaba por não se focar muito na pessoa do Pai Paulino; é estilizada e representa, um pouco como as estatuetas tradicionais africanas associadas ao pensador, um pouco da filosofia africana, um pouco do pensar, do fazer-nos pensar na nossa cultura, nos contributos, na ausência dessas referências”.
“É uma estátua que representa uma reflexão, o pensar além do que atualmente vemos e sabemos”, observou o dirigente da Batoto Yetu Portugal, que trabalha com jovens e crianças interessados na cultura africana.
A iniciativa não está focada no período da escravatura em si, mas Djuzé Neves reconhece que, ao ser focada a presença dos vários povos africanos, esse período (da escravatura) também estará presente.
A colocação destas placas e da estátua de Pai Paulino complementa o trabalho da associação que desde 1996 tem trabalhado no resgate de manifestações e práticas artísticas do continente e da diáspora africanas, promovendo visitas guiadas aos espaços de presença africana na Área Metropolitana de Lisboa e no Vale do Sado.
A Batoto Yetu Portugal promove ainda, em parceria com a secretaria de Estado da Igualdade e Migrações, a Plataforma Memória Africana Digital em Portugal, que tem como principal objetivo pesquisar a história da presença e influência africanas neste país.
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