Durante a cerimónia que assinalou a entrada em funcionamento das novas empresas de gestão do Património Cultural – a MMP e o instituto público Património Cultural — hoje no Palácio da Ajuda, Pedro Sobrado apresentou as suas apostas e perspetivas de futuro como dirigente da MMP.
Pedro Sobrado afirmou que “é hoje impossível determinar com exatidão a adequação da rubrica de investimento a todas as necessidades de intervenção aquém e além PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] que edifícios como os monumentos nacionais reclamam”.
“Revela-se necessário realizar um diagnóstico infraestrutural e transversal a todo o universo de museus e monumentos para estabelecer prioridades em termos de estudos e obras”, acrescentou.
O responsável considerou também que este é um tempo de adaptação e estruturação que, segundo o estudo de viabilidade económico-financeira que fundamentou a criação da empresa pública, apenas se fechará em 2026.
“Precisamos de um ano de execução orçamental para aferir da adequação dos recursos existentes às reais necessidades de funcionamento e de atividade, mas também para realizar um diagnóstico de organização, estruturar serviços e consensualizar um horizonte estratégico, ouvindo equipas e dirigentes”.
Para Pedro Sobrado, 2024 será também o ano de abrir concursos para a direção dos museus e monumentos, para uma “liderança renovada” em cada um deles em 2025.
Quanto a iniciativas em curso, adiantou ter já encontros previstos com autarquias, e prometeu que não deixará de abordar as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, as comunidades inter-regionais, a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) ou o Turismo de Portugal, entre outros.
Já prevista está também aquela que será a primeira “iniciativa pública de monta” da MMP: “uma grande conferência internacional”, intitulada “Aos museus cidadãos”, organizada em parceria com o Conselho Internacional de Museus (ICOM) no quadro das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Para este seu mandato, Pedro Sobrado conta com a participação de mecenas e deixa o compromisso de honrar os investimentos, acrescentando pretender estabelecer parcerias e desenvolver projetos em comum com associações e organizações do setor.
No que respeita à política organizacional dos museus e monumentos, o dirigente aposta na “leveza”, mas rejeita a “festivalização” para que a cultura “tende a deslizar”, privilegiando antes “gestos de programação estruturantes e com relevância”.
“Não invejamos a lógica do acontecimento, a hiperatividade programática que redunda frequentemente na pulverização de recursos e exaustão das equipas”, afirmou.
Para Pedro Sobrado, é necessário estar à altura das exigências dos tempos atuais, apostando na comunicação, mediação e inclusão social, mas também é preciso colocar um foco no “brio do acolhimento público e na dignidade das instalações, terminando na relevância, pertinência e consistência da programação cultural”.
Nesta sua nova trajetória, o antigo presidente do conselho de administração do Teatro Nacional São João não quer perder de vista o papel do turismo, lembrando que os visitantes estrangeiros são responsáveis por uma “percentagem esmagadora” das receitas próprias dos museus e monumentos.
Apesar disso, quer “renovar o sentido de pertença de Portugal ao seu património” e garantir que os portugueses se relacionam com os museus “não apenas como um bem que guardam, mas como uma realidade de que usufruem e participam”.
A “leveza organizacional” que irá nortear os seus passos à frente da MMP terá “necessariamente como primeira expressão o modelo de gestão a implementar, assente nos princípios da eficácia, atingir objetivos e metas, e da eficiência, fazê-lo com o menor dispêndio possível de tempo, energias e recursos, visando a agilidade administrativa e implicando uma geral desmaterialização documental”.
“Inseparável deste processo é a urgente renovação da infraestrutura tecnológica que há muito viu expirado o seu prazo de validade, importando assegurar este investimento por via do aumento do capital estatutário, para que a operação compreendida no próprio processo de instalação da MMP não prejudique a atividade, lesando a missão de cumprimento de serviço público”.
Aplicar leveza aos espaços implica ainda a definição de uma política preventiva de gestão de riscos e sustentabilidade ambiental, “para aliviar a pegada energética e minorar a necessidade de empreitadas onerosas”, acrescentou.
Pedro Sobrado assinalou que no perímetro da responsabilidade da nova MMP estão 1.007 trabalhadores, 38 museus, monumentos e palácios, dos quais cinco monumentos classificados pela UNESCO como património mundial, e museus nacionais que “singularizam o panorama museológico português não conhecendo instituições congéneres em qualquer parte do mundo”.
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